sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Nós

É uma menina. Ainda me lembro quando o médico disse, quase que um palpite, bem no comecinho da gravidez. Uma menina? Eu repeti, sem saber que sempre quis uma menina.
É verdade que sempre quis um menino também, então, sempre quisera aquele momento.
Uma menina.
Uma menina que balança aqui dentro. Chuta e eu penso se sabe que chuta. Se sabe que bate na parede da barriga. Coloco as mãos sobre meu umbigo e imploro: “Filha mexe, mexe para a mamãe sentir” ela fica em silêncio, talvez seja birrenta essa menina que cresce dentro de mim.
Ou talvez, não me escute. Talvez não ouça um som e não saiba que língua é. Como eu, quando assisto esses canais em italiano, francês ou grego, que seja. Sei que falam algo, quase que posso adivinhar se é algo bom ou não mas, como essa pequena menina, não sei do que se trata.
E ela se move quando quer, balança e chuta quando lhe dá vontade. No meio da tarde, em um escritório barulhento, sinto suas cambalhotas leves, no universo que é a minha barriga. Olho em volta. Ninguém sabe. Ninguém pára de ver o seu excel, ou os seus emails. Só eu é que paro, e tomo um mini e feliz susto. Só nós é que sabemos que a vida, agora, é muito maior do que acontece ali. Eu e ela tornamo-nos cúmplices nesse segredo. Eu posso sentir seus movimentos. Ela pode sentir os meus. E ninguém mais importa, em todos aquele escritório.

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