A barriga

Acredita que ainda não me acostumei? Já se foram 7 meses, o umbigo está quase desaparecendo, mas ainda não me adaptei a essa pança gigante, tão exibida, tão espaçosa, que parece gritar para o mundo o tamanho do milagre que nós, mulheres, recebemos dos céus.
Passo os dias a repetir: "É mesmo...".
Estou trabalhando, concentrada em meio à numeros e cálculos, quando ela se vira dentro de mim, provocando uma enorme borbulha de movimentos... "É mesmo!" Repito para mim mesma, saindo do prumo, pousando a mão sobre a minha barriga e lembrando que sim, estou grávida de verdade.
Acontece também quando esbarro em algo e, Jesuius, como esbarro nas coisas! Derrubo um boné na loja de esporte, ou entalo quando tento passar entre dois carros. Enquanto me abaixo para a barriga sair da rota dos retrovisores, repito em voz baixa: "É mesmo...A barriga" E ela não se cansa de chamar a minha atençao.
Quando tento amarrar o cadarço do tênis, quando me esforço para calçar uma meia, ou para subir uma calça, ela está sempre ali, irônica.
e ainda tem os espelhos. Como me assusto cada vez que passo por um! Há uma bola na metade do meu corpo, gigante, redonda, e ela não estava ali outro dia... Quase que posso ver vida dar um sorrisinho sacana pra mim, a bolota sussurrando: "Eeeei, estou aqui, a gravidez. Grande, forte, redonda, incoveniente e, ao mesmo tempo, acolhedora e sublime. Não tente me evitar ou me esquecer. Sou onipresente querida...". Concordo, submissa e feliz, acarinhando o ninnho que se fez, tão milagrosamente, em meu próprio corpo.