domingo, 8 de maio de 2011

O reino animal

Meu dia das mães na crônica do dia:

“Mamããããe” ela berra, na madrugada. Acordo meu marido:
- Ela acha que você é a mamãe, tá sabendo né?
- Tô - ele responde sonolento. Esperamos mais um pouco, quem sabe ela para. Qualquer dois minutos de silêncio é o suficiente para nos agarrarmos ao pote de ouro no final do arco-íris: Ela dormiu. É sempre no terceiro minuto, quando suspiramos aliviados, que ela volta ao repertório inicial: Mamãããe!
Levantamos, normalmente ele senta primeiro e eu sigo, numa solidariedade silenciosa, ambos acabados certamente lembrando daquelas promessas todas que nos fizemos um dia, sem nem saber que era nas madrugadas que a prova viria.
- Eu faço a mamadeira? – pergunto, tendenciosa.
- Pode ser. Eu troco. – ele responde, cordato.
Vou até a cozinha, pego o leite, conto as medidas, 1, 2, 3, 4, 5, 6... Tá bom, 180ml, vou fazer 180ml. Torço para a água da garrafa térmica estar quentinha, mas, senão estiver, ela toma leite frio, penso, argumentando que está calor em pleno outono. Mentira pura. Minto também, quando chego no quarto e ele pergunta se eu lavei a mão antes de fazer a mamadeira. Claro, respondo, bocejando.
- Olha filha, mamãe trouxe seu tetê. É hora de nanar né?
A bichinha me olha fixo, esboça um meio sorriso, repete a palavra “Tetê” e ignora a palavra “nanar”, embora ela esteja muito melhor no “N” do que no “T” em geral. Ainda no escuro, dou uma mamadeira de leite até onde ela se habilita a tomar e, na sequência, aviso:
- Agora, filha, a mamãe vai por você no seu bercinho, que tá tarde, tá na hora de nanaar, ok?
Ela reage como se eu tivesse lhe perguntando quem são os animais domésticos, e começa a desfiar sua gama de palavras, todas em tom de interrogação, fingindo que iniciava um papo:
- Au- au?
- Filha, o au-au tá nanando agora né?
- Miau?
- o miau também Sofia, tá nanando.
- Pece?
- O peixe filha, tá nanando no laguinho dele.
- Cocó?
-A galinha tá nanando com os pintinhos né filha, é hora de nanar.
- Piu-piu? – meu Deus, quantos bichos ela já conhece!
- O piu-piu também tá nanando meu bem, a floresta toda tá nanando.
- Mu?
- A vaca também Sofia. Todos os bichos, todos os bichos da fazenda e do oceano, até os bichinhos do outro planeta, todo mundo tá nanando agora.
É quando, então, ela inicia o campo dos humanos:
- Léo?
-Filha, o Léo, a vovó, a Isabella, todo mundo tá nanando agora, e a mamãe também. Vai dormir e pronto, hora de nanar.
Ela se desespera:
- Bola? Lua?
- A bola nana, a Lua tá nanando, acabou, o sol tá nanando, quando o sol acordar, a gente acorda também. Não agora, agora é hora de nanar, chega né? – Tento colocá-la no berço, mas as suas pequenas mãozinhas agarram o meu ombro, quando ela dá a cartada final:
- Mamãe?
- Nanando Sofia, mamãe tá nanando em pé. Você vai nanar agora, e deitadinha aí. Tchau.
Com uma pitada de força, arranco seus bracinhos das minhas costas, e a deixo no berço, enquanto ela fala todas as palavras que conhece ao mesmo tempo:
- Aqua-auau-miau-bola-papato-mao-pé-meia-meia... Ela repete a última, com tanto esforço, que quase acredito que ela tem algo importante a dizer.
Ainda assim, falo apenas boa noite, e saio do quarto, ouvindo a choradeira começar. Quando vejo que estamos em maio, tudo que consigo pensar é que dia das mãe não faz jus ao cargo. Deveria ser, no mínimo, madrugada das mães, que é quando, ai sim, aflora o bem e o mal de toda uma espécie.

2 comentários:

  1. Super PARABENS hoje!!
    DUPLO!!!!!
    beijos
    Re

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  2. Amiga, te amoooooooooooooooo!
    Um super beijo e muita calma nessas horas, hahaha.

    Vivi

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