Sempre gostei de uma porcaria

Meu olhos não abriam, mas eu escutava o seu choro. De longe, escutava. Alguem me dizia que ela estava chorando e eu ia lá. Amamentava. Amamentava de novo, mas ela continuava a chorar. Eu ordenava para mim mesma, mentalmente: "Olho abre! Abre olho, abre!" E as vistas teimavam em pesar. Ainda assim, me levantava e ia para a sala.
Lembro como se fosse hoje, de balançar aquele neném noite a dentro, olhando pela janela e vendo os prédios todos apagados, apartamentos escuros, onde as pessoas dormiam. "Todo mundo está dormindo. Todo mundo pode descansar... Só eu que nao..."Pensava, olhando pela janela e enxugando uma lagriminha, que insistia em cair. Era cansaço. Exaustão, desespero puro.
Hoje, no segundo filho, as lembranças ficam mais nítidas. Volto a acordar na madrugada e implorar para os meus olhos: "Abra, abra olho, por favor, abra" enquanto escuto o chorinho aumentar. O medo que a primeira criança seja acordada faz os olhos obedecerem mais rápido. Dessa vez, não saio do quarto. Mantenho a minha cria dormindo no meu peito, depois de mamar, dou tapinhas ritmados nas suas costas, torcendo para que durma pesado, enquanto navego pela internet. No facebook, observo: Todos estão dormindo, ninguém escreve nada, até que... Ops, "oi?". "Oi". "É, tô amamentando." "Você também?" Também. E também, e também.
Existe um mundo de gente vivendo o mesmo que a gente. Começo a papear com as amigas que também são mães e que, como eu, talvez se sentissem solitárias agora a pouco.
Pra isso serve essa porcariada que é o facebook. Eu sempre gostei de uma porcaria. Sempre. Sempre gostei de fandangos, cheetos e big brother. Sempre tive um pé naquilo que não presta, não seria diferente com o facebook, claro. E, a noite, no meio da madrugada, papeando com amigas é que me dou conta. Viva a amizade, que é real. E viva o facebook, virtual e útil. E, viva, claro, as bolachas recheadas, cheetos e fandangos! Um brinde à vida, que, como diz minha babá: "é cansativo mas é vida". Sim... É. Vida real...Viva!