No começo

No começo eu achava que o tempo passava devagar.
Agora ele corre muito veloz...
No começo eu achava que a barriga não cresceria nunca,
Agora ela está grande demais
No começo as roupas ainda serviam,
Agora vejo que posso sobreviver com duas ou três mudas de roupa,
No começo eu enxergava meus pés,
Agora esforço-me para ver o tamanho das unhas
No começo eu tinha muito medo, mas uma fina pontada de certeza,
Agora tenho quilos de certeza, mas ainda um pingo de medo
No começo eu vivia em busca de uma nova mudança no meu corpo, uma cintura maior, uma veinha nova no peito, uma mudança no umbigo.
Agora as mudanças avançam sobre mim e não lembro-me mais de como era antes..
No começo a gente fica checando tudo o tempo todo, inclusive a calcinha. Está tudo bem? o xixi, as unhas o cocô, tudo. Uma loucura.
Depois a gente esquece, desiste de checar tudo e vive. Vive mesmo.
No começo eu queria os sintomas, mesmo que eles implicassem em vômitos e azias.
Agora os renego e brigo com eles: passa por favor, passa, passa, passa.
No começo eu ficava horas falando disso.
Agora também.
No começo eu assistia os DVDs do ultrassom incansavelmente.
Agora não sei onde deixei
No começo eu fiquei um pouco louca. Acho.
Agora piorou.
No começo parece que o meio não vai chegar nunca e que o final, só existe para as outras. No começo parece uma eternidade, mas não é.
O meio já passou, o final já está quase aí e, agora, eu sou as outras. Aquelas que carregavam a barriga enorme. Aquelas que tinham azia e sentiam os chutes. Sou uma delas.
Em breve serei outra ainda. A que carrega seu pequeno tesouro nos braços. Agora, eu já acredito, mesmo, que esse dia logo chega. Porque o começo já passou.