Falação

As pessoas falam tanto. Não, não, não é aquele normal que as pessoas falam e que, cá entre nós, já é demais.
Quando você está grávida é um tal de dizerem que a barriga ta grande que a barriga ta pequena, que ta alta, que ta baixa, que ta inchada que tá redonda, pontuda, até quadrada há quem diga que a barriga tá, impressiontante.
E dizem que você vai ter pouco leite, muito leite, médio leite, ensinam receitas pra aumentar leite, pra dar leite bom, dizem qual é o melhor leite, to vendo a hora que alguém vai me dar uma receita pra sair coca-cola do peito. E eu vou anotar, claro.
Tem gente que diz que vai adiantar, gente que diz que vai atrasar, gente que diz que vai ser sagitário, gente que faz conta e que refaz depois, várias vezes, pra te contar, enfim, quando vai nascer seu filho. “Mas vamos ver quando muda a lua. É a lua que decide. Vem cá, eu tenho um calendário lunar na minha bolsa”. Vou.
E daí, essas mesmas pessoas gostam de dizer que vai ser normal, que vai ser cesárea que seu quadril é ruim e “Ihhh, normal com esse quadril estreito?? Vai dar não” – dizem, na maior convicção. Também ensinam como faz pra dilatar, contam como abre, onde corta, falam muito de um tal de “pic” que dão lá e da dor nas costas. Falam pra ouvir música, pra ficar calma, pra entrar numa banheira, pra respirar assim ou assado, já me falaram até pra beber uma cachacinha quando as dores começarem: “é a melhor coisa. Fica bebinha assim, e nem dá muita bola pra dor..” Achei um dos melhores conselhos que recebi.
Falam pra não coçar a barriga, pra não se esticar muito, pra não abaixar, pra não ficar de pé, pra não ficar sentada, eu nunca sei bem o que querem de mim, mas escuto tudo.
No início, relutava, e, quando alguém vinha me dizer que barriga tava assim ou assada, eu contrariava: “Não, não ta, não, olha bem”. Insistia.
Até que cansei.
Hoje, alguém me diz que a barriga ta alta e eu respondo: “É ta alta mesmo né?”. Depois, logo depois, ali, no elevador, uma vizinha que me encontra diz-se impressionada como a minha barriga está baixa. E eu, sorrindo docemente, respondo: “Nossa, é mesmo. Ta baixa né?”.