quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Na Madrugada

Na crônica do dia:

Ter um bebê é como ir — obrigatoriamente — a uma rave, toda noite.

Imagine que você pode não estar afim de festa, pode estar com preguiça, cansado, sonolento, mas é obrigado a ir à balada. Pior, a balada vem até você. Toda noite uma rave, é assim que me sinto com a minha pequena notívaga.

Ao invés de rímel, pijama. Ao invés de salto alto, pantufas. O ritual noturno repete-se, com algumas diferenças da balada. Não pago nada para entrar nessa festa, ou melhor, não pago diretamente, mas, mensalmente, essa rave custa-me uma pequena fortuna.

Também não recebo a festa sozinha, não; meu marido compartilha comigo das noites intermináveis desse clube e, juntos, descobrimos os dissabores da madrugada.

Normalmente iniciamos achando que tudo vai se sair bem. É só mais uma horinha e ela cansa, pensamos. Mas ela não cansa. E nós, sim, cansamos a beça. Quando passam-se duas horinhas desse primeiro momento, já precisamos revezar. É como se um achasse um sofazinho pra sentar, enquanto o outro é empurrado pra pista. Nossa, quanta fumaça! — eu diria na balada. Em casa, repito baixo: “Nossa, quanto xixi!”, e lá se vai mais uma fralda. Meu parceiro da noite faz uma pergunta inocente: “É normal vazar xixi?”. Eu acho que é, mas, no meio da noite, tudo o que é normal pode não ser. A madrugada tem outras cores, um cigarro pode não ser só um cigarro e um guaraná pode ter um "boa noite, cinderela". Ai, eu queria tanto tomar um "boa noite, cinderela", penso, antes de apavorar-me: Será que xixi demais pode ser algum problema? Ih, e tem cocô! Puxa, que cocô mole, acho que ela está com diarréia. Tiro meu cúmplice de sua poltrona: “Amor, põe a mão aqui, veja se ela está com febre”.

Hum, tá quente, ele responde sem pensarmos que está quase 40 graus em São Paulo. Achamos um termômetro. Tentamos. Trinta e seis é febre? Acho que não. Esse termômetro tá funcionando mesmo? Deve estar.

Calma, calma, calma, repito como um mantra, enquanto a música eletrônica me ensurdece os ouvidos. Como chora alto a minha menina... As horas passam, ofereço o peito e temos uma trégua. Estamos no bar e alguém nos deu água. É só meia horinha, mas é um alívio sair da muvuca, não? Quando o peito esvazia, de novo somos empurrados para a pista lotada. Já não consigo respirar, está muito alto esse barulho: “Putz-putz-putz-putz-putz-uééééééééé”, é uma sirene? Ela está engasgada? Estou enlouquecendo. Será que tinha mesmo um "boa noite, cinderela" no meu guaraná? Tomei guarná? Uéééééé, uééééé. O bar fechou e decido fazer uma mamadeirinha pra ela. Tento sair da escuridão da balada, acendo algumas luzes, o choro fica distante, parece que fui tomar um ar. Na cozinha, sinto-me do lado de fora da boate, respirando por alguns instantes. Logo, chega meu companheiro, assustado: “Olha o que saiu do nariz dela!” e me mostra um tequinho verde, caca pura. “É uma caca de nariz, amor”, respondo com a sanidade de quem saiu da rave. “É normal?”, ele pergunta, ainda ofegante. “Do meu nariz sai caca, do seu não?”. Ainda me resta algum humor. Ele sorri, eu respiro. Se estamos conseguindo rir, ainda há esperança. Deve ser porque o sol começa a despontar lá fora e nossa pequena rave, logo, nos dará uma trégua. Ela dorme e eu penso em pedir o carro. "Vamos?", convido olhando pra ele. "Vamos", ele responde, me puxando pela mão.

É dia em São Paulo...

3 comentários:

  1. KIka, Flor, eu sei que vc já falou aqui sobre clichês, sobre como todo mundo dá palpites ou pergunta demais, mas pelo carinho que eu tenho por vc e pela sua filhinha e por ter acompanhado aqui virtualmente toda a história e por não ter matado minha filha hoje com 10 anos de nada que uma mãe inexperiente pode fazer de errado eu queria te dar umas dicas sobre "a rave da madrugada". Primeiro, não se deve trocar fralda a noite, a não ser que o bebê faça cocô. O ideal é vc usar fraldas noturnas- eu particularmente não gosto da marca Pampers porque apesar de famosa ela é a que mais vaza na minha opinião. Essas trocas noturnas despertam o bebê e uma boa fralda noturna bem ajustadinha vai durar a noite toda sem vazar. Outra coisa que funcionou comigo é que eu deixava o quarto bem clarinho durante o dia e a noite só deixava a luz do abajour. Isso ajuda pro bebê não trocar o dia pela noite. Banho morninho antes de dormir funciona que é uma maravilha e com um pouquinho de camomila na água é uma verdadeira benção. Os pediatras recomendam que não é preciso dar água pro bebê se estamos amamentando no peito. Pois é, eu desobedeci. Dei água e minha filha adorou.Ela nasceu em novembro e estava muuuuuito calor. Outras coisas que eu desobedeci também e foi ótimo: dei chazinho de erva doce quando ela tinha apenas 15 dias, dava gotinhas de luftal e tylenol - 1 gota por quilo. E foi muito bom. Nada de errado aconteceu. A minha filhinha só acalmou. Não fique chateada pela minha intromissão mas são só coisas que fizeram parte de uma maternidade tranquila pra mim que eu quero compartilhar com vc. Nem sei se vc já está fazendo tudo isso. Se precisar de mim estarei aqui. Sempre.
    Um bj com carinho nas duas.
    Gi

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  2. Kika, tudo bem? Acabei de ver o seu blog que a sua bebê nasceu (ok - 2 meses)! Parabéns, amiga! Fiquei fora do mundo cibernético... Tenho tantas histórias da Sofia pequena...Hoje rio delas, mas no começo eu chorava, chorava como uma criança mimada. Tarefa árdua esta de ser mãe. Até hoje fico P**A com mães que falam que as crias NUNCA tiveram cólica. Às favas! Minha amiga médica diz que é impossível. A Sofia chorou até os 3 meses. Eu sofri! Lembro-me de um dia que liguei para o meu marido 8 horas da noite e implorei para ele vir para casa. Estava com a Sofia desde das 11 da manhã no colo e ela não parava de chorar. Estava de pijama sem escovar os dentes e sem tomar banho! Olhava para a janela da minha sala e pensava "ainda bem que pus a tela, porque eu teria me jogado pela janela'. Ninguém fala dos revezes. É gratificante. Hoje vejo uma criaturinha doce que fala"Ti amo mamãe".
    Mas os choros noturnos não passaram... Teve 2 noites no Carnaval que ela dormiu conosco, por causa de um resfriadinho. Acabei acordando amarrotada como se a Bateria da Beija-Flor estivesse na minha cabeça.... E a Balada de 23-janeiro no Sírio? Ah, esta também foi inesquecível... Tirar sangue e a gritaria... Coisas que aprendemos com os filhos!
    Bem-Vinda! Boa Sorte! E MUITA PACIÊNCIA.
    BJS. NO SEU CORAÇÃO.

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  3. Adorei isso. Eu tive muita sorte porque minha filha dorme a noite toda desde uns 4 meses de idade. Antes disso ela acordava só pra mamar e pronto. Hoje em dia, com cinco anos, ela dorme uma média de 11 horas por noite. Minha mãe vive falando que não é pra animar porque isso é uma raridade. Boa sorte com as raves.

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