terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tudo novo de novo

Estamos em abril de 2009. Encostada na pia de um banheiro pequeno, observo um teste de farmácia, aguardando a segunda listra. Não vai aparecer, penso. Não vai aparecer, repito em voz alta, já me mexendo, destrancando a porta e, antes de sair, olho mais uma vez para o teste. Apareceu. É um milagre, digo para mim mesma, antes de gritar: Estou grávida!

Estamos, agora, em novembro de 2010. Acordo cedo e já abro o pacotinho, rebolando pra prender o xixi. Tem que ser o primeiro da manhã, penso, já com o teste em mãos. Faço meu xixi e assisto à primeira listra aparecer, enquanto penso que, claro, a segunda não vai aparecer. Tenho a impressão de ouvir minha filhota resmungar no quarto ao lado. Já está acordando, noto, enquanto olho o teste de novo. Apenas uma listra. Melhor assim, ela nem fez um ano, falo para mim mesma, enquanto deixo o teste de lado. Entro no chuveiro, tentando aproveitar o que me resta da manhã, antes que ela acorde de vez.

Imagine só, um segundo bebê, vou pensando enquanto tempero a água. Eu ia morrer. De alegria ou de pavor? pergunto-me rindo. Não sei.

Imagine só, a barriga crescendo de novo, o umbigo estufar mais uma vez, sentar de perna aberta, esbarrar em tudo, perder a visão dos pés. Imagine só, de novo ver o peito jorrar leite, o rosto engordar, as calças ficarem muito, muito pequeninas. Imagine só, de novo noites sem dormir, aquela angústia pós-parto, as dores do ponto, andar curvada, comprar bomba de leite, comer canjica, um bebê escorradio nos braços, fazer shhhhh o dia inteiro, por barriga com barriga, chacoalhar, não chacoalhar, paninhos e mais paninhos para as infinitas regurgitadas. Imagine só, tudo de novo, que loucura.

Além do que, já tive esse milagre uma vez. E faz tão pouco tempo. E quem é que ganha na loteria duas vezes, em menos de uma ano? Quem, quem? Penso, enquanto enrolo-me na toalha.

Em cima da pia, o teste. Quando olho para ele, pela última vez, tomo um susto. O mesmo susto, o mesmo frio na espinha, o mesmo calor no peito. Mais uma vez, penso ouvir as batidas do meu coração, disparado, quando, enfim, respondo para mim mesma: Eu. Eu recebi um milagre, pela segunda vez. Eu ganhei na loteria, de novo.

Que chovam estrelas, que explodam os fogos. Vou ter mais um bebê.

Fonte: Crônica do Dia: Kika Coutinho

3 comentários:

  1. Adoro seu blog...
    Quando achei li todos os seus posts de uma só vez, tenho uma bebe da mesma idade e os mesmos pensamentos!!!!
    beijos

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  2. VIVAAAAAA!!!!
    Sempre delicioso ler...
    Bj querida!

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  3. Parabéns!!!
    Escreve mais!!!
    Adoro ler os seus textos!
    Ah não esquece de falar para Dona Cegonha passar aqui em casa tb!rsrs
    Beijocas
    Sandra

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