quinta-feira, 21 de abril de 2011

Viajando a dois


Entramos no taxi aos prantos. "Aos prantos" não é força de expressão. Realmente sentíamos o coração partido ao deixar nossa filhota aqui. Do lado de fora, ela brincava no balanço, sem saber o que acontecia. Para deixar a situação ainda mais ridícula, o taxista perguntou se era passeio ou obrigação. Eu estava com tanta vergonha daquele chororô todo que pensei em dizer: "É um velório, estamos indo viajar para o velório de um amigo querido, no Amapá". Tenho certeza que ele ficaria caladinho, com dó da gente. Mas, ao invés disso, meu doce marido disse simplesmente a verdade: "É passeio, estamos indo viajar de férias. É que nunca deixamos nossa filhinha aqui... " Ele deu uma engasgada e eu tive a impressão que o taxista segurou o riso. Logo passou a nos consolar, que era assim mesmo, normal, parte da vida, etc. Eu só conseguia pensar que idéia de jerico foi aquela, pra que sermos tão modernos, independentes, felizes? Aliás, felizes era uma piada né?
No aeroporto, os minutos eram infinitos. Nunca foi tão difícil entrar no avião. Nunca. Mas entramos, seguimos e os 5 dias de férias passaram. Não vou dizer que foi num minuto, não foi. Mas confirmou o que já desconfiávamos. Nem mesmo a solidão de nós dois, trará de volta o tempo que já passou. Tudo sempre, sempre, sempre será diferentes agora. Não nos divertiremos mais sozinhos impunemente. Não torceremos mais para dar overbooking na volta. Não nos alegraremos mais com as mesmas lojas. Grande coisa que aqui tem Diesel, Seven... Onde está a Carters? Tem Toys `re Us?
O excesso de peso, nunca mais será o mesmo. Nunca mais malas lotadas de jeans, eletrônicos, roupas tamanho 40 pra cima. Não. No lugar delas, calças pequeninas, macacões, um cachorro de pelúcia em tamanho real, bonecas e chupetas se espalham pelas Sansonites recém-adquiridas.
Os jantares a dois, não nos pertencem mais de forma exclusiva. Antes de chegar a pasta, um pensamento: "Essa hora ela tá mamando. Deve estar com a TV ligada, é Backyardigans que passa agora. Ai, devia ter avisado que também tem Cocoricó na Cultura, ela gosta tanto..." Ao encerrar a refeição, uma olhada discreta no relógio denuncia onde está a cabeça: "Essa hora ela já dormiu. Será que cantaram aquela musiquinha? Será que passaram a mão nas costinhas dela, de cima pra baixo, as três vezes de sempre? E o berço, lembraram de subir?" A conta chega. A conta é cara. Sempre cara quando se tme uma alegria tão grande quanto um bebê. Porque os prazeres são altos, imensos, impagáveis. "Nossa, imagine ela aqui, com esse monte de gaivota, ia ficar louca!" "Olha, se ela vir esse livrinho vai querer, ele brilha no escuro!" "Ai, vamos levar esse pé de pato, imagine ela com pé de pato...", "Amor, corre aqui, achei o Pablo, olha! E tem o Tyrone, vem ver!!"
E assim seguimos a viagem. Com a doce ilusão de que fomos sozinhos, um casal forte e independente, é muito importante se fortalecer como casal, afinal nós existimos antes de existirem os filhos, claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário