sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ela baba

É quase engraçado de lembrar. A Sofia nunca tomou uma pancada, quando bebê. Parece óbvio né? Um bebê não apanhar, claro. A Sofia era tratada a pãe de ló, quando enroscava a pequena unha nos meus casacos de lã, eu até me desculpava, tamanho era o cuidado com aquele bebê frágil e indefeso. Ok, corta a cena. Dois anos depois, outro bebê na casa e, num instante, aquela criança que nem fala, nem anda, muito menos se defende, leva uma porrada com o controle remoto, direto na cabeça. Meu Deus e a moleira nem fechou!! Corro pra ver, está tudo bem, a Olivia grita, mas está bem. Foi só mais uma porrada, probrezina, ela que já nasceu apanhando. São assim os caçulas né? Já nascem apanhando. Mal chegam em casa e já ganham aquele abraço de urso do irmão mais velho. Parece tão lindinho, porque ela está chorando, me pergunto, chegando mais perto e, daí sim, notando uma mão que enforca o pescocinho da pequena. Era só um abraço, mas, se dá pra dar um apertinho, vamos lá né? É difícil dizer que não se amam, porque senão é amor, o que é essa dependência, essa ligação tão forte e próxima, que, as vezes, vejo que uma não sabe bem onde começa ela e onde começa a outra? É assim a relação de irmãos próximos, uma língua estrangeira, que a gente não sabe onde começa uma palavra e onde termina a outra. Para nós, de fora, é tudo uma sentença só, mesmo sabendo que ali devem ter várias - e diferentes - palavras, frases e pontuações. Por outro lado, é um experimento o ato de se ter irmãos. Como é a vida dos pequenos né? Eles se surpreendem com tudo, com uma gota de água no chão da sala, com uma folhinha verde na árvore do parquinho, com uma pedra luminosa da areia e assim por diante. Como não se surpreenderiam com um irmão? Uma irmã? O outro ali, pequeno feito boneco, mas cheio de sons, gestos e barulhos estranhos... "Mamãe, ela babá!" me falou outro dia a Sofia, apontando a irmã que tinha a boca molhada. O encantamento e a surpresa que tinham ali, naquela pequena descoberta, são indescritíveis. Assistindo esses pequenos milagres, essas tolas e preciosas mágicas da vida, não consigo deixar de me perguntar: Quando foi mesmo, que nos acostumamos à vida, e deixamos de lado o encantamento?

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