sexta-feira, 18 de maio de 2012

A mulher média

A alegria de ser comum. Aqui. A culpa é das capas de revistas. Claro, também das atrizes, das estrelas, dessas loucas que engordam 9 kg na gestação e depois perdem 12. Dessas que estão sempre combinando, até quando descombinam... Por anos eu tentei ser uma delas. É verdade que não com muito afinco, porque quando soube que teria fazer hidratação no cabelo toda semana, tomar banho meio friozinho e passar maquiagem todas as manhãs — pior, tirar tudo todas as noites — ai, já não queria tanto. Mas junto com os pés de galinha, o bigode chinês e a queda dos peitos, vem também uma lucidez clara, tal como uma lâmpada dessas brancas que, embora não tenha muita estética, ilumina mesmo o que está diante de nós. E, com tudo visto, resolvi decretar: quero ser a mulher média. Me parece óbvio, aliás que, se quero filhos normais, marido normal, vida normal, também deva simplesmente ser uma mulher normal. Ah, como é difícil encontrar normalidade hoje em dia. Gente normal, sabe? Dessas que às vezes dão uma gafe, dessas que se vestem meio inapropriadamente porque acharam que era mais ou menos chique do que era. Dessas que nem sempre conseguem passar corretivo, rímel, e que cedem à sapatilha ou ao tênis mesmo que não fique tão bom. Dessas que comem arroz branco, feijão, uma macarronada se for sexta, tá bom, se for terça também. Não estou falando da mulher desleixada, da glutona, da que sai de pantufas e crocs — ok, de vez em nunca tudo bem — mas falo da mulher média, que se arruma, se cuida, passa creme até, mas que, quando pode, prefere um all-star a um salto 10, da mulher que reconhece que praia e base não combinam, que gosta de uma novelinha, talvez até Big Brother — e daí? Gente viva que reconheça o valor de um bom banho quente, o valor do sol no rosto, o valor da saúde, o valor incontável do dolce far niente, saca? Não quero ser a chata que só lê os russos nem a tosca que recita Michel Teló. Uma mulher média, dessas que costumam andar com a mesma bolsa, aquela bolsa normal, da Corello, Arezzo ou Standcenter que, no final, dá mais ou menos na mesma. Uma mulher dessas que tem uns dois casacos bons e liga mais para a cor do sapato do que para a cor da sola do sapato, afinal. Claro que deve ser bom estar sempre impecável, ter sempre a pele de pêssego, quem não quer? Ah, eu queria, claro, não estou dando uma de rogada, me fazendo blasé, bem eu que adoro um produtinho milagoroso, imagine, longe de mim. Eu realmente queria se fosse grátis, mas descobri que não é. Além de ser caro, financeiramente, é opressivo e — o pior — te desfoca. A busca da perfeição, pra mim pelo menos, que adoro um banho pelando, e que odeio, leia-se ODEIO tirar maquiagem, é muito opressiva. Talvez seja porque tenho menos tempo, talvez seja a metade da vida que se aproxima muito velozmente, talvez sejam as minhas filhas virando meninas grandes diante de mim, não sei, mas hoje o foco mudou e sinto-me libertada por não precisar fazer a unha meticulosamente toda semana. Veja, isso não é uma apologia ao descuido e ao relaxo, não. Muito menos uma conversa esquerdista, dessas antigas. Nem tem tanto a ver com dinheiro quanto se pensa. Conheço, de fato, mulheres riquíssimas, ricas de dinheiro mesmo, sem essa balela de que são ricas de espírito, não, mulheres cheias da grana, bufunfa rolando no banco que, acreditem, portam-se como mulheres médias. Estão arrumadas, são bonitas inclusive, elegantes na sua normalidade, chiques no seu conforto. Mas são médias porque permitem-se um ou outro erro, comemoram os acertos e, sobretudo, valem-se deles para sentirem que, assim, na libertadora e inconveniente maturidade, é que se encontra a alegria — não da chegada — mas da doce caminhada. Ufa. Fonte: Crônica do Dia: A MULHER MÉDIA >> Kika Coutinho

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