segunda-feira, 11 de junho de 2012

FAMÍLIA >> Kika Coutinho

www.cronicadodia.com.br É no cotidiano que assisto às minhas duas filhas se tornando irmãs. Já são, desde sempre, irmãs. Mas a mágica da intimidade, do afeto e do desafeto, dos ciúmes e do amor encantado dos irmãos, se faz na rotina cotidiana, aqueles dias repetidos, quando tudo parece igual. É nesses dias, cheios de simplicidade e ócio, que se forma a mágica, o milagre da construção de uma família. Quando as assisto às minhas filhas se descobrindo, quase rio ao pensar que um dia elas terão amigas sinceras, amizades fortes, que construirão na escola, na vizinhança, ou não sei onde; e a essas dirão que são como irmãs. Irão declarar amor eterno, contato eterno, juras e mais juras de que serão para sempre amigos, porque são irmãos escolhidos, algo assim. E eu juro que vou assistir calada, por mais que me tente a avisá-las que irmãos, irmãos mesmo, são esses que de bebezinho se conheciam. Irmãs com intimidade, que sabem onde uma tem pinta, onde a outra tem cócegas, do que é aquela cicatriz que ela tem na testa e aquela que a outra fez quando caiu da bicicleta. Irmãos são esses que sabem as histórias mais antigas de um e de outro, conhecem os detalhes dessa família da qual fazem parte, sabem os orgulhos e as vergonhas escondidas, aquelas que não ousamos partilhar nem mesmo com o espelho, os irmãos as sabem... É tão imensamente gratificante assistir às minhas meninas tornarem-se isso. Tornam-se, conosco, uma família. Não sou simplesmente parte de uma família, sou a forma de uma família, porque a crio e recrio, todos os dias, a cada despertar. E quando penso no que posso ofertar a elas de melhor, como mãe, não vem à minha mente as melhores escolas, nem as mais incríveis viagens, nem mesmo o maior amor do mundo, ainda que isso seja verdade. Quando penso no que de melhor posso ofertar-lhes, penso em ofertar-lhes uma à outra simplesmente. Porque é esse o legado que deixarei a vocês, minhas pequenas. Se Deus for bom como tem sido, se a vida for honestamente justa, se eu continuar dando a sorte que dei, é isso que terei lhes deixado daqui a muitos anos, uma família. Portanto, minha torcida é por coisas miúdas, quase bestas, que se engrandecem quando feitas diante dos meus olhos encantados de mãe. Torço para que vocês cochichem seus segredos mais íntimos, dividam a boneca, ainda que seja a ridícula da Barbie, não há de ser nada, não me importarei nem mesmo se se tornarem peruas, desde que possam compartilhar dos escarpans (ai Jesuis!) e das piadas internas, que possam se consolar quando um babaca qualquer partir o coração de uma de vocês, talvez até das duas (se vocês acharem dois babacas, vou te contar hein?). Mas, meninas queridas, se, depois disso tudo vocês ainda se reunirem ao redor de uma mesa, rirem e tomarem uma garrafa de vinho juntas, quem sabe possam desfrutar dos filhos uma da outra e, enfim, dar continuidade àquilo que chamamos de família, àquela baboseira de sobrenome, e etc. e tal, se vocês partilharem isso e as lembranças antigas dessa velha família à qual pretendo dedicar a minha vida, pronto, está feito. Que o milagre prossiga, portanto, nessa segunda-feira fria, e todos os outros dias. Fonte: Crônica do Dia

5 comentários:

  1. Que texto lindo. Lindo e absolutamente verdadeiro. Você deveria participar com ele do concurso da Limetree. =)

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  2. Kika
    Eu sou mãe da Juliana Simões e leio sempre o seu blog! Adoro!
    Seus textos sempre dizem o que gostaríamos de expressar mas temos muita dificuldade....Você consegue com delicadeza, humor e verdade!!
    Continue nos brindando com eles! Muito obrigada!
    Beijos de Marcia Simões

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  3. Oi, Kika!
    Lindo, lindo.
    Como faz pra falar com você, ein?
    Meu nome é Roberta, sou uma das autoras do portal Minha Mãe que Disse e, ai, queria taaaanto entrar em contato com você.
    Me manda um email pra contato, facebook, sinal de fumaça, qualquer coisa, porfa?
    Abraço!
    Roberta
    http://minhamaequedisse.com/

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  4. Ah! Pode mandar pro email que aparece no comentário, viu?
    Beijo beijo, adorando as crônicas!

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  5. Amei! Parabéns pelo texto! Tenho a alegria de poder dizer que essa é a história da minha vida com minha irmã linda Julia Terra! Obrigada pelo texto maravilhoso! Abraço

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